Em casa…

Que Alice e Chico mudaram meu jeito de me relacionar com gatos, quem frequenta esse blog já está cansado de saber. Mas, pros que chegarem aqui desavisados, eu preciso compartilhar a experiência da internação do Chico.

Desde criança, aprendi que gatos são traiçoeiros, não se apegam às pessoas e gostam só da casa. Tivemos alguns gatos, mas desses que aparecem no quintal e a gente dá comida por pena. Eram mais da rua do que nossos e quando nos mudávamos, eles ficavam pra trás, pq na verdade nunca dependeram da gente. Esses gatos eram a prova de que eles nunca se afeiçoavam às pessoas (por motivos óbvios).

O Chico acaba de voltar depois de 45 dias internado. Eu senti muita falta dele, mas a vida corrida fez com que o tempo voasse. Pelo menos, pra mim. Pra ele, eu sei que foi um longo período de saudade. Eu visitei o Chico, durante esses 45 dias, todas as segundas, quartas e sextas. Cada vez que eu cheguei na recepção da clínica e dei boa noite (ia às 19h), o primeiro a responder, lá de dentro, do local da internação, era ele, com um longo e alto miado. Era só ouvir minha voz.

Em todas as visitas, eu fiz questão de levar petiscos que ele adora. Nas primeiras visitas, ele nem queria saber dos petiscos. Queria só que eu não tirasse a mão dele, as duas de preferência. Chico, em todas visitas, babava, se esfregava, mostrava a barriga, fazia gracinha pra chamar minha atenção. Quando ele foi internado, fechou a cara pro mundo. Ficou duas semanas sem deixar que ninguém se aproximasse dele. Mas o humor era outro quando eu chegava na clínica. Os veterinários ficaram impressionados pq nunca tinham visto essa reação num gato. “Quando eles estão bravos, ficam bravos com todo mundo, até com os donos”. Ao me ver, ouvir minha voz, ele miava, ronronava, babava, se enroscava, tentava subir no meu colo. E seguiu assim, em cada um dos dias em que fui vê-lo.

Uma amiga me perguntou uma vez se ele não se esqueceu de mim por ficar tanto tempo internado. Um cachorro se esqueceria de seu dono? Pq um gato, tratado com todo carinho, se esqueceria?

O Chico não só não se esqueceu de nós por um minuto sequer, como nos esperou a cada dia. A veterinária me contou que, quando eu não ia, no horário em que estava acostumado com a minha visita, ele começava a chamar. Depois de se acostumar com a rotina, quando sabia ser dia de visita, a miação começava cedo, como quem antecipa a chegada. O Chico, nesses 45 dias, se comportou como a raposa do Pequeno Príncipe: “Se tu vens, por exemplo, às quatro da tarde, desde às três eu começarei a ser feliz. Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade!”

Existem pessoas que tratam o bicho com indiferença, existem aqueles que os dispensam ao menor sinal de dificuldade. Eu já sabia, mas depois dessa experiência eu tenho certeza, de que o Chico não mediria esforços para estar no mesmo lugar que a gente, até o fim dos dias dele. Como um ser humano pode abandonar um animal com esse tipo de sentimento (?), convicção (?)? Coloquei questões sobre os sentimentos pq não quero humanizar o Chico ou qualquer outro bicho. Sei que ele é um animal, com instintos, com reações puramente instintivas e impensadas. Mas é instinto me esperar todos os dias? É instinto ronronar com tanta satisfação ao contato de uma mão humana? Eu nunca vou saber. Mas não preciso saber cientificamente disso. O Chico, deitado no meu colo, dormindo com a satisfação de uma criança realizada, não precisa me explicar nada, ele está aqui, inteiramente aqui nesse momento presente como se fosse o único da vida dele, está seguro na casa dele – sim, ela é dele e a gente mora aqui de favor – pelo resto dos poucos anos que teremos o privilégio de dividir com ele. Pra sempre!

como vcs sobreviveram sem mim?

como vcs sobreviveram sem mim?

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6 ideias sobre “Em casa…

  1. Lívia Fernanda

    Não é só instinto, tenho certeza absoluta! Entre o céu e a Terra, há muito mais coisas do que pode imaginar nossa vã filosofia! Talvez o fato de os gatos estarem cada vez mais domesticados, gostam cada vez mais de nós! Mas será que um processo desses duraria apenas 10 ou 15 anos? Difícil de entender!

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  2. Mônica Ibrahim

    Nossa, não sei se aguentaria ficar 45 dias longe dos meus! Iria ficar maluca e deprê total!
    Aqui em casa continua o drama Madonna x marido! Ela só aparece em casa qdo sabe que ele não está…fico preocupada qdo for hora de parir e/ou época das chuvas, frio…
    Qdo vou à rua pegá-la ela olha pra cima, pra ver a varanda acesa e sabe que ele está em casa e pula do meu colo, só aparecendo de madrugada qdo dormimos.
    Minha tristeza se amaina um pouco pq ganhei mais um filhotinho clone da q eu já tenho, o Jheremias Dean…rs

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  3. Letícia

    Muito lindo o texto! Eu cresci sempre com cães e meus pais tinham um pouco desses preconceitos com gatos… Quando fui pra faculdade (faz muitos anos, rsrsrsrs) resolvi adotar uma gatinha porque na minha visão, eles precisavam de menos tempo e dedicação e eu tinha pouco tempo e morava só. Depois disso, minha vida mudou completamente. Não sei mais viver sem gato! Penso como deve ser triste a vida sem um ronronar todo dia. Como me mudei para uma cidade onde o abandono de bichanos é imenso e extremamente triste e cruel, nos últimos 3 anos me dediquei a proteção animal e atualmente tenho em casa 25 gatos, todos acolhidos das ruas (e 1 cão). Eles são minha alegria e o que dão sentido a vida; cada um que é recolhido é um novo filho; cada um que é adotado, é um pedacinho de mim que vai junto mas uma alegria imensa de dever cumprido; quando algum vira estrelinha… Enfim, é uma missão e um aprendizado diário de amor; um amor diferente, que não é dependente, não é escravo e que exige reciprocidade. Só posso dizer que sinto pena de quem não é capaz de amá-los. Ah, e quanto aos meus pais (que hoje em dia moram bem longe de mim) também se apaixonaram por felinos; meu pai, que na adolescência chegou a matar um gato só por maldade, hoje em dia chamega os gatos até não querer mais; faz todos os mimos, inventa brinquedos, diz que o único animal que dá pra ter dentro de casa são os gatos; chora quando algum que eles adotam morre… enfim, é como dizem: perigo! eles viciam! e não tem cura, viu?!

    Beijos Letícia e Liz Taylor (a felina diva)

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  4. Frida, Bilbo e Sofia

    Que legal !!!!! O Chico voltou !!!!!!!! Que bom !!!!!! Nós ficamos muito contentes com a volta dele !!!
    Como ele está ? Se recuperou bem? E Alice estranhou quando ele chegou em casa?
    Realmente, nós gostamos dos confortos do lar, mas gostamos muito mais das nossas mamães e papais !!!!! Hehehe….
    Tenham um ótimo domingo !!!!
    Um miau da Frida, do Bilbo e da Sofia

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  5. Karina

    Tudo muito lindo o que você escreveu, Ariana! Eu também cresci achando que gatos eram traiçoeiros (sem entender muito bem o significado da palavra), mas mudei completamente meu modo de pensar depois do Darwin. Concordo com a Livia e acredito que os gatos não agem somente pelo instinto. Esses 45 dias de internação do Chico provam isso muito bem.
    Feliz pela volta do pretolino!
    Beijos

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