Felinos, esse mistério ou “De como o Chiquinho ficou luxento”

Ai que o Chiquinho vai encarar o bisturi. Marcamos a cirurgia pra semana que vem. A luxação é leve, não é nada urgente, a gente poderia até optar em não fazer, mas eu conheço o Chico há um ano, eu sei que, de vez em quando, ele fica bem desconfortável com a dor. Ele é um filhotão, por isso, a recuperação é mais rápida e mais provável, do que de um gatão mais velho.

Hoje conversamos com as veterinárias, conheci o “hotel de luxo” em que meu preto vai passar 20 dias em férias.

Foi bem aflitivo me conformar com a cirurgia. Como desesperada que sou, explorei o google com todas as forças e ferramentas pra encontrar palavras que dissessem: “calma, vai dar tudo certo, vai ser lindo e o Chico vai ficar super bem pra sempre e ponto”. Mas, como todos que têm gato devem perceber, informações sobre felinos são sempre raras, confusas e, muitas vezes, mescladas com dados sobre cães.

Então, encontrei a Gisele Mazuim e seu site sobre acupuntura e fisioterapia veterinária. A Gi é de Porto Alegre e foi uma querida respondendo minhas perguntas mesmo com barrigón de grávida e ocupada com o que essa fase exige.

É bem looongo, mas, pros que se interessam (natural ou forçosamente) pelo assunto, seguem as ricas informações que a Gisele passou.

Em felinos a luxação patelar é bastante incomum, ela é mais frequente em cães de raças de pequeno porte, (como shytzu, poodles, yorkshieres.) Há poucas referências na literatura, as existentes descrevem que quando ocorre em gatos, as causas são congênitas e traumáticas.
As congênitas têm sido registradas em gatos British Shorthaired, Devon Rex, Siamês e em uma variedade de cruzamentos de raças. Embora a luxação não esteja presente na hora do nascimento, as deformidades anatômicas que causam essas luxações estão presentes e são responsáveis pela futura luxação patelar. Já as traumáticas são mais frequentes nos felinos e estão relacionadas aos hábitos de saltar dos gatos, maior predisposição a quedas, acidentes de trânsito. E podem ser agravadas por fatores como obesidade e sedentarismo.

Como desconfiar de luxação em gatos?
Na maioria das vezes só é identificado por um exame clínico e ortopédico completo por não apresentar sinais clínicos. Quando sintomática, apresenta dor ao apoiar o membro pélvico ( pode ser unilateral ou bilateral) no chão, claudicação e até mesmo, dependendo do grau da dor do animal, o deixar apático, deitado ou andando levemente abaixado para não forçar a articulação.
É importante que o proprietário observe hábitos do seu animal, como: se a claudicação teve uma evolução rápida ou lenta? Se ela é intermitente? Se em alguma hora do dia ele “manca” mais? Se o calor ou o frio o afeta de forma diferente? Se ele evita saltar, mesmo que objetos de pouca altura? Se ele evitar andar em locais de planos inclinados?
O animal deve ser levado ao veterinário e isto relatado, o especialista através de um minucioso exame ortopédico, detecta instabilidade, crepitação, regiões doloridas, atrofias musculares e alterações da amplitude dos movimentos. Ele também deve avaliar o animal em marcha a passo ou trote, ou seja caminhando ou correndo, onde se pode verificar anormalidades que incluem passos curtos, arrastar das unhas, rotação dos membros, tropeços, fraqueza generalizada, ataxia, cruzamento dos membros, sons anormais (crepitações ). E provavelmente, solicitar exames complementares, como Raio X, tomografia, entre outros.

A cirurgia é complexa? quais os riscos?
Existem 4 graus de luxação patelar classificadas. Apenas para o primeiro grau, em que não existe claudicação e nem alterações anatômicas, a cirurgia não é recomendada, porém, como não ha sinais clínicos, dificilmente o proprietário a detecta em tempo para fazer o tratamento. Em pacientes idosos ou com algum comprometimento especifico também deve ser bem avaliado a relação custo beneficio da operação. Os outros três graus de luxação devem ser tratados cirurgicamente. A cirurgia não é um procedimento complexo, porém deve ser feita por um cirurgião ortopedista de confiança, que deverá conhecer em toda a extensão as estruturas lesionadas e avaliar cautelosamente o animal para que escolha uma técnica cirúrgica adequada para cada caso, permitindo uma boa estabilização da patela na tróclea femoral, evitando riscos como: que procedimento tenha de ser refeito e /ou que no futuro traga complicações articulares como artroses. Não devemos esquecer de um exame clínico minucioso e a realização de exames pré operatórios, como hemograma, leucograma, alguns exames bioquímicos e eletrocardiograma , entre outros que forem recomendados pelo seu veterinário, pois estaremos submetendo o animal a um procedimento anestésico por algumas horas e devemos saber se ele está apto para isso.

Como é o pós operatório?
Uma cirurgia ortopédica feita corretamente por um cirurgião experiente é o primeiro passo para o sucesso no tratamento de seu felino, Porém, um passo tão importante quanto a cirurgia é um pós-operatório bem
feito. Se o proprietário não tem condições de fazê-lo em casa, recomenda-se que o animal fique internado em uma clínica, onde possa ter esse acompanhamento, porém sabemos que o ambiente hospitalar pode ser opressor e estressante, especialmente para os gatos, que na presença de outros animais e de determinados cheiros, podem ficar mais estressados. Isso acabará interferindo de modo negativo na recuperação deles. Ninguém gosta de ficar internado em um hospital, mas se isso for necessário para seu gato, procure clinicas especializadas em felinos, elas não recebem cães e mantém um ambiente e acomodações diferenciadas, que irão minimizar o estresse.
Por outro lado, se você tem condições se levar seu gatinho para casa, procure mantê-lo em repouso pelo tempo determinado pelo cirurgião. Por exemplo, em um quarto pequeno onde não possa correr e pular é o ideal. Só o deixe solto quando houver alguém por perto que o impeça de correr e pular. Mantenha-o limpo, seco e alimentado. A alimentação é um fator muito importante nesta etapa. Se estiver com bandagens, essas deverão ser abordadas diariamente. Se notar qualquer alteração, como pata inchada ou avermelhada, mau cheiro, bandagem frouxa ou escorregando do lugar, bandagem mordida ou rasgada, bandagem úmida ou tala torta ou quebrada, retornar imediatamente para revisão. O apoio precoce do membro é importante para a calcificação, além de restauração das condições fisiológicas normais do membro afetado. Porém, deve-se evitar excessos. Administre as medicações prescritas (antibióticos, antiinflamatórios e analgésicos) corretamente, uma vez que isso aumenta as chances de sucesso do procedimento e garante conforto e bem-estar ao bichinho.

Precisa de fisioterapia pra se recuperar?
Embora, os métodos e os protocolos felinos sejam os mesmos usado em cães, não podemos desconsiderar que o manejo com gatos é peculiar, dado o seu caráter e psicologia. Exceto alguns casos não são tratáveis, pois com paciência e cuidado especial tenho tido bastante sucesso ao abordar técnicas de acupuntura e fisioterapia nos felinos.
Poucas pessoas sabem, por não serem orientadas sobre esse aspecto, que no final se torna de grande importância, que a fisioterapia é recomendada no pré e pós operatório. Com um acompanhamento fisioterápico adequado antes da cirurgia, podemos evitar ou diminuir o uso de antiiflamatórios e analgésicos (evitando assim riscos a função renal do animal, por sobrecarga medicamentosa, por exemplo), fortalecer a musculatura e evitar atrofias e manter a mobilidade articular, fazendo com que a recuperação cirúrgica seja mais rápida e com menos danos a saúde do animal.
Já o pós operatório deve ser começado imediatamente após a cirurgia, por meio da crioterapia, que consiste na aplicação de gelo nos primeiros 3 dias, junto a isso o médico veterinário fisioterapeuta pode fazer uma mobilização passiva, para evitar aderências das estruturas manipuladas na cirurgia. É muito importante o contato do fisioterapeuta com o cirurgião para saber o tipo de procedimento cirúrgico realizado e as modalidades terapêuticas que poderão ser usadas apropriadamente para cada caso. Entre elas temos:
– Eletroterapia (Emprego terapêutico da corrente contínua), pode ser: Eletroestimulação nervosa transcutânea (TENS): faz analgesia causando relaxamento; Estimulação elétrica funcional (FES): aumenta musculatura, não hipertrofiando, mas fazendo com que volte ao normal.
– Laserterapia: fazendo a função de cicatrizante, analgésico e antiinflamatório.
– Acupuntura: Reduzindo edema e aliviando a dor.
– Ultrassom terapêutico: ajuda no alívio da dor, diminuição da rigidez articular, aumento do fluxo sanguíneo, estimula a regeneração dos tecidos e acelera o reparo ósseo.
Entre diversas outras modalidades, enfim o protocolo deve ser montado conforme cada paciente, visando diminuir o tempo de recuperação de pós operatório, manter a qualidade de vida do animal nesse tempo e colaborar para o sucesso da cirurgia.

Férias??? Como assim, mãemãe?? Poifavoi, num quero ir não...

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5 ideias sobre “Felinos, esse mistério ou “De como o Chiquinho ficou luxento”

  1. Silvia Freitas

    Ai, dói até no coração da tia aqui rsrsrs Mas o Chico há de ficar bom loguinho para aprontar outras aventuras felinas. Seguindo a recomendação do vet, tudo acabará bem.
    Boa sorte, Chiquinho!!! Aproveitas as “férias”.
    Mande notícias, hein!

    (ahh…adicionei vc no meu facebook, caso não saiba quem é a Silvia Freitas que está lá solicitando amizade kkkkkkk)

    Beijinhos

    Resposta
  2. pretinha

    Ligeirinho o Chico vai estar correndo e pulando pela casa novamente, é como tu disse, ele é novinho e vai ter uma boa recuperação. E vocês vão poder trabalhar tranquilos sabendo que ele está sendo bem cuidado o dia inteiro. Vai dar tudo certo!!!
    beijos

    Resposta

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